Por Júnior Bueno
Um novo Almodóvar vem aí. O cieneasta mais autoral desta era já teve seu nome convertido em gênero estético: tudo que é colorido, melodramático, exuberante e exagerado, logo ganha o rótulo de almodovariano. Mas para além dessas definições rasas, todo produto desta grife costumaser profundo, inesperado e insano. E o último filme do espanhol, apesar de mais sombrio e masculino, tem todos os elementos para encantar os seu fãs.
Considerado o mais ambicioso filme deAlmodóvar desde A carne trêmula, de 1997 (quando ele trocou as comédias amalucadas por tramas mais densas), A pele que habito é uma releitura/homenagem do diretor ao cinema noir dos anos 30, com um toque macabro de Hitchcock. Ahistória gira em torno de Robert Legrand (Antônio Bandeiras) um cirurgião renomado que secretamente cria uma nova pele capaz de revestir todo o corpo de uma maneira indestrutível. Motivado pelo acidente que vitimou sua mulher e que a tal couraça poderia salvar, ele se torna obsessivo na busca por uma cobaia para testar seu experimento. O personagem é uma mistura de Dr. Frankeinstein elatin lover. Quando entra em cena o terceiro elemento, sua filha, aparentemente violentada por um maníaco, Robert tem a chance de encontrar a cobaia perfeita.
Diferente de tudo que Almodóvar já fez, A pele que habito é um filme de terror com um ritmo alucinante e um climasombrio e noturno, ao contrário da atmosfera solar que o diretor imprime em sua obra. As famosas “cores de Almodóvar”estão lá, mas servem para pontuar a cenas mais como uma chancela, um lembrete,não com o exagero de tons quase caricatos do universo do diretor. E assim sesegue todo o padrão do filme, ainda há vermelhos e azuis espalhados pelo figurino, maquiagem e cenografia, mas o clima não é o mesmo de Tudo sobre minha mãe, e Volver, por exemplo. A trilha sonora do filme, assinada por Alberto Iglesias, contribui bastante para a atmosfera sombria do filme.
A pele que habito marca o retorno dadobradinha do diretor com seu ator-fetiche, Antônio Bandeiras. Os dois não trabalhavam juntos desde Carne trêmula, e desde então, Almodóvar tem se dedicado a escrever sobre grandes figuras femininas (mesmo quando os personagens eram homens como Gael García Bernal em Má educação e Javier Cámara em Fale com ela). Com esse volta do seu “muso” o diretor pode inaugurar um novo ciclo em seu universo particular, se arriscando em outras áreas, como o suspense e o terror, mas sem deixar de levar consigo as suas cores. O novo filme de Almodóvar pode nos mostrar um novo Almodóvar.
E aí, gostaram?
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