E a entrevista da edição da revista Moema & Campo Belo desse mês é com nada mais e nada menos que Cláudia Abreu! Peço licença ao Márcio Mello (que elaborou) e compartilho com vocês essa entrevista imperdível!
1. Chayene é engraçada, tem um figurino colorido, é uma mulher exagerada e querida por todos. Tanto que a personagem é um dos pontos altos da novela “Cheias de Charme”. Para você, o que faz Chayene ser tão querida?
Ela é totalmente carregada de referências ao humor. O próprio exagero estético dela reflete isso. Gosto desse lado dela, porque dá certa leveza a um estilo de vida muito pesado. Até a questão de ser um pouco grosseira, então de fazer maldades, tudo tem um toque da comédia. É o humor bem rasgado, de situação , bem comum ao horário das sete horas. Ela ainda é uma cantora superpop de forró, que já alcançou o sucesso, tem seu jatinho próprio e, mesmo tendo tudo na vida, é uma mulher ambiciosa. Acho que a principal característica da Chayene é que ela acredita muito em si e no próprio sucesso. Então, ela não existe sem o personagem da cantora famosa. E essa é a parte mais rica dela. Exatamente porquê não vai ter esse êxito o tempo todo. O engraçado é que desde o início da trama, em nenhum momento ela conseguiu ter uma personalidade normal fora dessa vida de grande estrela.
2. Na novela Chayene faz de tudo para acabar com a carreira inicial das cantoras “empreguetes “ Cida, Penha e Rosário. Você classifica a personagem como uma vilã?
Ela é uma vilã diferente. Não é do tipo que fica se ocupando em fazer maldade, maquinando planos terríveis. A Chayene é egocêntrica, tem uma vaidade enorme. Logo, quem estiver atrapalhando o caminho dela, ela meio que passa por cima. A Chayene é meio grosseira, mas é alguém que provavelmente, não teve uma educação mais voltada para os valores reais da vida. É mais por aí a maldade dela. Vem mais do ego do que da invenção de maldades. É um pouco diferente do perfil comum das vilãs. Ela não fica se ocupando em fazer maldade para os outros, ela só não quer que interfiram nos interesses dela.
Com Carolina Dieckman e Giovana Antonelli nos bastidores de Três Irmãs |
3. De onde veio à inspiração para criar a personagem? Você já tinha tido algum contato com esse rico universo? Chegou a se encontrar com a cantora Joelma, da Banda Calypso, que é uma das rainhas do estilo tecnobrega?
Peguei referências minhas. Nas teve uma noite, junto com o ator Luiz Henrique Nogueira, que fui até o Centro de Tradições Nordestinas, no Rio de Janeiro. Lá eu bebi, comi e ainda me apresentei em um palquinho para algumas pessoas. Isso foi antes de começar a gravar e acho que foi justamente quando encontrei a personagem. Depois de cantar, ainda dancei com todo mundo. Estava tão animada que aceitei todos os convites para dançar. No dia seguinte, eu não andava (risos). Mas foi ótimo. Ninguém entendeu nada quando me viu cantando ali. Porém, depois eu expliquei que estava colhendo informações para a novela. Eu sou brega em muitos momentos, principalmente nos musicais. Sou romântica por natureza. Então, quando estou no carro e toca aquela música melosa, já me sinto brega imediatamente. É bom ser brega. É quando você deixa a crítica de lado e se expõe à suas sensações. Isso é ser brega no bom sentido. Quanto ao encontro com Joelma, ele realmente ocorreu e ela foi um amor. Veio conversar com o elenco durante o workshop e pedi para ir até o camarim dela, pois queria fazer umas perguntas mais restritas, pessoais. Queria saber o que ela pensava sobre alguns pontos que gostaria de projetar na Chayene. Ela foi importante no processo. Encontrei com a Gaby (Amarantos). Mas troquei mais coisas de pesquisa com a Joelma.
4. O figurino de Chayene é um capítulo a parte em “Cheias de Charme”. Rico em paetês, lantejoulas, com muita cor e estampas, tudo é muito, é um exagero. Você usaria algumas peças de Chayene?
Claro que eu usaria uma roupa da Chayene. Ela tem um glamour brega, mas que não deixa de ser imponente. Eu tenho meu lado extravagante e a Chayene usa roupas engraçadíssimas. Quem sabe? Depende da ocasião, do lugar, pode ser que dê para usar. O figurino dela tem paetês, plumas, lantejoulas, tudo de mais berrante que se pode imaginar, ela realmente usa. Como atriz, na hora de montar o personagem, o figurino é uma fonte de referências importantes. Mas ela não é só roupa. Claro que não construí a personagem toda baseada somente nisso. Não sou de limitar neste processo, pois isso esvazia o papel. No entanto, o figurino ajuda muito a criar, é uma etapa que vem depois de outros recursos que ultrapassam o estilo. É o que falta para se sentir na pele da personagem.
5. Apesar dos vários sucessos que você tem na carreira, Chayene é a personagem mais popular que você já fez até hoje. Você sente isso nas ruas, no contato direto com o público?
Com certeza! O retorno é maravilhoso e sempre positivo. Na televisão a Chayene é sim minha personagem mais povão. Apesar da vaidade, ela tem carisma e proximidade com o seu público. Ela é a rainha do forró e ninguém tem esse título à toa (risos).
Com suas filhas |
6. Em “Cheias de Charme” Chayene vive implicando com os empregados. Fora da TV, como é a relação com suas empregadas?
Eu adoro as minhas empregadas. A Chayene trata todo mundo de “amadinha”. E eu adoro as minhas “amadinhas”. Tem uma em especial, a Biga, que está muitos anos na minha família. Ela me ajuda tanto. O mínimo que tenho que fazer é tratar bem uma pessoa que deixa sua família para cuidar de outra casa. Eu tenho duas babás que me ajudam porque agora são dois bebês.
7. Você é mãe de quatro filhos, sendo que dois são ainda bebês. É difícil conciliar as gravações da novela com a vida de mãe, de dona de casa?
É bem difícil conciliar. Tenho dois bebês pequenos em casa. Um de cinco meses e outro de um ano e oito meses. Além das meninas, uma de cinco e outra de onze. São meus filhos e precisam muito de mim. Mas eu também tenho que trabalhar. Já passei bastante tempo me dedicando a eles. E continuo assim. Tanto que já nem sei o que é dormir direito. O tempo não existe, me tornei uma mulher elástica e faço questão de não fazer um trabalho nas coxas e não tirar meu foco da família. Não sou aquele tipo de mãe distante. Quero dar mamadeira, ler as historinhas, trocar fralda, levar ao médico e, ainda tenho de lidar com a diferença de idade entre eles e cuidar do meu marido. De mim, eu já esqueci. Agora ainda tenho de cuidar da Chayene e da família. De vez em quando levo a prole para a gravação e eles se divertem bastante. Principalmente com os figurinos da minha personagem e com os cenários dela. Ficam encantadas com o ego da cantora, tiramos fotos e já se vestiram de Chayene. A casa da personagem parece da Barbie. As meninas assistem à novela de vez em quando. Não incentivo porque algumas tramas não têm situações próprias para crianças.
8. Você é uma atriz reconhecida por grandes trabalhos realizados no mundo da dramaturgia. Com tanta experiência, na hora de aceitar um convite para dar vida a uma personagem, o que você leva em consideração?
O que eu quero é bons personagens. Não ligo para o tamanho deles. Se for bom, vai ter seu destaque. Não sou a protagonista e não existe essa intenção em tornar a novela. A trama tem espaço para todas as atrizes brilharem. É uma história incrível. Quando li a sinopse, pensei: essa novela vai arrebentar. E os números estão aí para comprovar isso. Estou neste ramo há muitos anos. Por isso, posso dizer que essa novela tem um frescor, tem um humor dos autores, tudo próximo da realidade. É um olhar fresco e delirante sobre as coisas. Às vezes uma não vale mais que um sim. O tempo vai passando e você deixa algumas oportunidades importantes de lado em detrimento de outras. Não sou de ficar chorando pelo que não quis fazer. E para trabalhar em novelas, só gostando e estando realmente envolvida no processo. É uma delícia, estava com saudades, mas sei que é desgastante. Então é importante eu querer muito trabalhar naquilo. E no caso de “Cheias de Charme”, o que me motivou foi a linguagem divertida e o alto teor de novidade. Falar de relações entre empregadas e patroas não é nada novo. Mas pelo contexto da novela, é instigante. Acho a ideia de varia um pouco a figura do protagonista muito válida. Hoje em dia, essa troca está muito evidente.
Belissima |
9. Você estava afastada dos folhetins desde a novela “Três Irmãs”, em 2008. Já estava com saudade de fazer novela?
Eu estava com muitas saudades. Cresci nisso. Então, tenho amigos desde a técnica, passando por atores, diretores, produção. É um ambiente muito próximo de mim. Estou há anos fazendo novela e vou criando laços de muita amizade. Passo um tempo sem ver algumas pessoas e ao revê-las é muito especial. Além disso, crio novas relações, conheço novos atores, troco informações. Televisão é uma estrada e é preciso estar bem acompanhada.
10. Além de “Cheias de Charme”, você está no ar, no canal a cabo “Viva”, com a reprise de “Barriga de Aluguel”, que foi uma das suas primeiras novelas. Como é a sensação de se ver num trabalho realizado no início da sua carreira?
Eu assisto um pouco porque passa muito tarde. Mas, de vez em quando, eu dou uma olhada. Fiz questão de ver o primeiro capítulo e foi muito estranho. Faz muito tempo, né? Tenho uma sensação estranha quando me vejo. Até hoje é assim. Melhorei um pouco minha autocrítica, mas ainda sou preocupada. Vida de atriz é muita exposição para você achar que está fluindo tudo bem. Esse rigor me ajudou a lidar com esses anos de carreira. É preciso ter cuidado ao aparecer na frente da TV, invadir a casa das pessoas. E olhar para trás me dá uma alegria enorme. É isso que sinto ao ver a novela da Glória (Perez).
Barriga de Aluguel |
11. Com 26 anos de profissão, como você analisa a sua trajetória? Mudaria alguma coisa no que fez até aqui?
A carreira na TV acontece de forma natural. Desde a novela “O Outro” até agora, tive altos e baixos, personagens memoráveis e esquecíveis, mas, sobretudo, acho que fui me aprimorando e ficando, cada vez mais, criteriosa e curiosa. Ter curiosidade é essencial para não ter que cair no lugar comum dos mesmos tipos. Fui amadurecendo mesmo na frente das câmeras.
JOGO RÁPIDO
Chayene é um grande desafio?
“Ela é daqueles personagens irrecusáveis e totalmente diferente de qualquer coisa que eu tenha feito na carreira. É acima do tom, que corre por fora do naturalismo. Posso mostrar com ela outra forma de interpretar”.
Drama ou comédia?
“Depende. Acho que a dificuldade está nos assuntos abordados”.
No tempo livre...
“Sou mãe! Dedico-me totalmente aos meus filhos”.
Cuidado com o corpo:
“Como eu não tenho muito tempo para a ginástica, aí tenho que segurar na alimentação. Quando posso, faço esteira”.
Postado por @FABIODIASR
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