Por Rodrigo Ferraz
Por Rodrigo Ferraz
Dionisio Neto é daqueles atores viscerais, que se entrega em qualquer personagem. Em “Desamor” não é muito diferente, com reestreia marcada para dia 17/1, o ator que faz teatro há anos, mostra um lado sujo, mas não menos realista de São Paulo e um personagem que poderia existir em qualquer cidade. Walcyr Carrasco que é o dramaturgo que escreveu essa peça especialmente pra ele, é um grande parceiro para o ator. Nessa entrevista Dionisio comenta essa parceria, sua carreira e outros projetos que podem estar por vir.
Não é a primeira vez que você trabalha num texto do Walcyr Carrasco. Como é a parceria de vocês? E como nasceu essa peça??
Nossa parceria aconteceu por acaso: eu tinha um teatro - O Inflamável, antiga sede da minha companhia de teatro, a Companhia Satélite e havia um banco lá desenhado pelo arquiteto Rodrigo Cervino Lopez, que foi da peça Desconhecidos, de minha autoria. A peça acabara e eu fiquei com pena de me desfazer do banco, então resolvi criar o Festival do banco e pedi para alguns dramaturgos textos inéditos que o utilizassem. O texto SEIOS do Walcyr foi o melhor, e o único que montamos. Ele foi ver várias vezes o espetáculo, me convidou para a novela Morde & Assopra e me presenteou com Desamor, escrita especialmente para mim. Desde então viramos parceiros e amigos. E como ele mesmo disse, ainda faremos muitos trabalhos juntos. Eu amo os textos dele, e modéstia à parte, sei muito bem como criar um personagem de Walcyr.
Seios |
A peça pra mim tem um Qde Plínio Marcos. O que você acha? Quais são suas outras referencias ao criar o personagem?
De Plínio Marcos acho que você diz pela marginalidade dos personagens, porque Plínio foi o primeiro dramaturgo brasileiro a dar voz aos excluídos e no caso de Seios eu interpreto um travesti e em Desamor um taxista homofóbico que faz michê com os clientes, mas as semelhanças param por aí. Walcyr é um grande autor, e tem sua voz pessoal. Desamor, com toda sua polêmica (ai, que preguiça) é uma peça cristã, pois além de todo pano de fundo LGBT, ela fala da transformação de um ser humano, independente de orientação sexual. E acredite, sofremos muitos preconceitos por causa da temática da peça. Alguns festivais e instituições "culturais" rejeitaram-na por causa da temática. E o público e a crítica exaltam a peça e lotam nossas apresentações. Para criar o taxista eu fiz laboratório, frequentei bares parecidos com o bar que ele frequenta e observei muito. Também me inspirei no jeitão do meu amigo Milhem Cortaz e no Dourado do BBB. Todo homofóbico é um gay enrustido. Todo pitbull é Lassie.
Em A Favorita |
Nas Satyrianas passada você fez um texto do Vincent Villari, com a Vanessa Goulart e o Tiago Martelli, como foi? Há chance da peça ser encenada mais vezes??
Foi outra parceria que apareceu por acaso. A Vanessa Goulart (que eu dirigi em "Olerê! Olará!" de minha autoria) adaptou um conto do Vincent Villari e o Tiago Martelli (que eu dirigi em "Jonas e a Baleia", também do Walcyr) me chamaram para dirigir e atuar. Eu gostei muito da adaptação e fizemos uma apresentação lotada nas Satyrianas, com excelente receptividade do público. O Vincent foi ver, saímos para tomar um café rápido e ficamos conversando cinco horas. Ele está escrevendo uma peça especialmente para nós. O projeto tem tudo para vingar.
Com Cássia Kis Magro em Morde & Assopra |
A Companhia Satélite existe desde 1995, quais foram os momentos mais marcantes que ela passou? O que você mais gostou de fazer nela??
Toda a minha estréia com a Trilogia do Rebento (Perpétua, Opus Profundum e Desembestai!) foi mágica. Na época eu tinha 23 anos e fui chamado pela mídia de o enfant terrible do teatro brasileiro. Grandes diretores como Antunes Filho, José Celso, Gerald Thomas, Bia Lessa, me convidaram para atuar em suas peças e no caso do Gerald, ele me deu carta branca para escrever todas as minhas falas em Os reis do iê-iê-iê. Fui para Nova Iorque e para a Europa com as peças, e sem um tostão furado no bolso, coisas que só a juventude consegue. Destaco também as peças que fiz com Ivan Feijó, em especial "Os Dois Lados da Rua Augusta", em que transformamos a rua em um palco e fizemos cinco apresentações em um ônibus de pelúcia pink que virou uma lenda urbana, projeto realizado com o Fomento ao Teatro, e Desconhecidos, ambos de minha autoria. E a sede da companhia, o cabaré O Inflamável, que durou três anos, nos deu muitas alegrias e nos deixou algumas dívidas. Graças ao Fomento e ao meu sócio Fred Fontes também mostramos o espaço e vivemos o sonho de ter uma sede, que, por causa dos altos custos acabo fechando. Lá montei as peças do Walcyr, recebi artistas como Chico Cesar, André Abujamra, Daniel Belleza, e criei o sambacabaré Olerê! Olará!, que revelou Mayana Neiva. Foi lindo! Mas não quero mais ter um teatro. No Brasil é uma utopia suicida.
Os dois lados da Rua Augusta |
E no cinema e na TV, o que mais você destaca da sua carreira??
No cinema Carandiru (o filme e a série da TV Globo), eu fiz o Lula - assistente do médico. Também Garotas do ABC do saudoso Carlos Reichembarch e Contra Todos, do Roberto Moreira com produção de Fernando Meirelles. E o surpreendente curta Araucárias, de Marcio Lovato, um TCC da Anhembi Morumbi com excelente qualidade. Neste curta sou o protagonista, e ele viajará festivais pelo Brasil e mundo afora, tenho certeza. Há também o desejo comum de trabalhar com Walter Salles. Eu fiz a locução do trailer do Linha de Passe e tivemos uma química maravilhosa. Na TV fiz o Tito de A Favorita, de João Emanuel Carneiro, este gênio da TV, com direção do grande Ricardo Waddington e Morde e Assopra, do Walcyr, com direção de Rogério Gomes, o Papinha. Foram grandes experiências, e despertaram em mim o prazer por atuar em novelas.
Um Gênio do qual se Desconfia com Tiago Martelli e Vanessa Goulart |
Soube que em breve teremos novidades, pode contar alguma em primeira mão para o Cabide Fala?
Sem dúvida, sempre haverá novidades, assim que eu puder falar conto em primeira mão para vocês. Estou captando para montar uma peça que escrevi e dirigi - Fim de Semana e um roteiro de longa Classe Média. Ano passado eu tive o privilégio de viver Ricardo III e Otelo no SESC Consolação para uma platéia lotada, com presença do meu amigo Nando Reis e grande elenco. Minha vida de ator mudou depois desta incrível experiência. Quero fazer mais Shakespeare. Vocês podem acompanhar as novidades da minha carreira no meu site oficial:http://dionisionetoproducao.wix.com/dionisioneto- e da peça Desamor emhttp://dionisiodionisio.wix.com/desamor - e viva o Teatro Brasileiro!
Na Leitura de Sheakspeare |
Fotos Desamor - Nelson Aguilar
DESAMOR
REESTRÉIA 17 de Janeiro - Sexta - 21h
CURTA TEMPORADA - ATÉ 8 DE FEVEREIROSEXTAS E SÁBADOS - 21 HSPREÇO ÚNICO: R$ 30,00(pagamento somente em dinheiro)
Estúdio Terra Forte - 2503-8550 | 7883-1784Rua Capote Valente, 703 – Pinheiros – São Paulo[10 minutos do Metrô Clínicas]
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