A nova novela de Manoel Carlos estreou no último dia 03 deste mês, e se mostrou um novelão do jeito que Maneco sabe fazer de melhor, com uma Helena, o Leblon, Bossa nova, histórias bem humanas que falam de amor, culpa, tragédia, família e outras coisas da vida, muitos barracos familiares, um texto delicioso, com diálogos longos e densos que revelam o interior de seus personagens, sempre bem construídos, suas crônicas do dia a dia, seu ritmo característico, além de um ótimo elenco, uma trilha bem escolhida, uma bela direção e enfim... A novela está linda. Sou suspeito porque adoro Manoel Carlos, sou fã mesmo, mas acho que ele não veio para brincar nessa sua última novela, e mais do que tudo, está escrevendo sem medo de ser o Maneco de sempre, com sensibilidade e simplicidade, sem querer ousar ou revolucionar o gênero e dando uma ”banana” pra essa gana por velocidade cada vez mais crescente do publico para com as novelas, como se ritmo ágil fosse sinônimo de qualidade. Na minha visão, o ritmo não tem que ser rápido ou lento, e sim harmônico com todo o conjunto, e o ritmo de Maneco, quando sua novela tem uma trama consistente, sempre se mostra adequado. Até por isso, embora reconheça ter sido uma estratégia positiva e acertada, preferia que a Globo não tivesse mexido na edição dos capítulos para acelerar a trama, gostaria de ter visto os capítulos do jeitinho que Maneco estruturou antes, mas já foi, e foi bom também (risos).
Apesar de tudo dito no parágrafo acima, o que mais tem repercutido na mídia e redes sociais, não é o enredo, texto, trama, personagens e etc. e sim, os furos quanto à idade de atrizes e personagens que não se encaixam, gerando uma grande confusão na cabeça de muita gente. Antes mesmo da estréia, já se criticava a escalação de Natália do Vale para dar vida à mãe de Julia Lemmertz, já que ambas possuem apenas dez anos de diferença na VIDA REAL. Com a novela no ar, outras escalações estranhas chamaram atenção: Vanessa Gerbelli, mais nova que Julia, fazendo sua tia; Ana Beatriz Nogueira como mãe de Gabriel Braga Nunes, sendo que possuem cinco anos de diferença; o trio protagonista vivido por Julia, Humberto Martins e Gabriel Braga Nunes, contemporâneos na ficção, mas que possuem respectivamente 50, 52 e 41 anos; Giovanna Antonelli mais velha quatro anos que Thiago Mendonça, como sua irmã mais nova, dentre outras confusões. Acho natural esse embaraço todo, mas o que me intriga é ver as pessoas criticarem isso usando como argumento a idade real dos atores e atrizes, confundindo idade de ator com idade de personagem. Em “em Família”, Julia Lemmertz tem 50 anos, mas a sua Helena obviamente não tem, essa tem apenas
Uma coisa engraçada, é que as pessoas se mostram incrédulas e impossibilitadas de levar a sério o parentesco das personagens de “em família”, como se isso fosse uma coisa pouco comum, mas essa discrepância entre as idades reais e fictícias de tal ator é algo recorrente nas novelas e nunca fez tanto alarde assim. Só entre as mais recentes: no grande sucesso Avenida Brasil, Murilo Benício e Cauã Reymond foram pai e filho com oito anos de diferença na vida real, está certo que não era um laço biológico, mas é pouca a diferença, assim como Cauã e Adriana Esteves que possuem onze anos de diferença, mas foram mãe e filho. Em A Favorita, também com oito anos a mais, Murilo Benício foi pai de Mariana Ximenes, com quem inclusive fez par em Chocolate com Pimenta anteriormente. Em Salve Jorge, Giovanna Antonelli foi mãe de Mariana Rios com dez anos de diferença entre ambas e Ana Paula Arósio, com 36, foi mãe de três atrizes com idades de 27, 26 e 23 anos em Cirande de Pedra. Em Passíone, a diferença de idade entre as gerações da poderosa família Gouveia era bem confusa, e tinha inclusive Cleyde Yáconis de 88, como mãe de Mauro Mendonça de 81. Recentemente em Flor do caribe, a idade do personagem de Sergio Mamberti, também foi bastante questionada, entre outros casos. Não é a primeira vez que isso acontece e muito provavelmente não será a última, a questão não é a idade que atores ou atrizes tem fora da ficção, essa a gente tem que esquecer e focar na dos personagens, o problema simplesmente é a aparência e o visual não condizer com tal parentesco, e neste caso uma boa caracterização sempre ajuda, e é nisso que talvez consista a maior falha de Em família. A caracterização poderia ter ajustado um pouco mais o figurino das atrizes, para fazer parecer o mais real possível o parentesco de suas personagens, o que aconteceu com Ana Beatriz Nogueira e Gabriel Braga Nunes que já parecem mãe e filho na primeira cena juntos, mas quanto a Gerbelli e Julia de tia e sobrinha fica mais duro de engolir, assim como Natália de mãe de Julia, já que a primeira é bem “conservadona” para uma mulher de 60 (risos). Já quanto a Julia, que parece ser a centro do “problema” nesse embaraço todo, a meu ver, passa tranquilamente por uma mulher de 40 anos.
Diante de tudo isso, não da pra dizer que Juliana, a tia de Helena, deixou de ser mais velha que ela, como era na segunda fase, ela continua sendo mais velha, ainda que não pareça. Talvez o didatismo gritante numa cena em que Chica apresenta todos os personagens de seu núcleo no oitavo capítulo (11/02), tenha sido necessário para desembaraçar a cabeça dos que estão perdidos – aliás, o que foi aquele didatismo todo? Maneco nunca foi disso, será que agora é regra oferecer tudo mastigado pro publico? Parece até exigência de alta cúpula pra agradar um “novo” público, será? -. É uma pena que a atenção de boa parte dos telespectadores tenha se voltado mais para esses detalhes do que para a trama. São todas boas atrizes, interpretando bem suas personagens, e o que vai dizer se são mãe e filha, tia e sobrinha, irmãs e etc. é o jogo de cena entre ambas, a relação entre suas personagens. Numa mesma cena em que estiveram Natália, Gerbelli, Giovanna e Julinha, muito agradável por sinal, como Maneco sabe escrever bem, todas estiveram bem entrosadas, como tia, filha, mãe, sobrinha, irmã, prima, amiga e enfim, penso que isso é que deve importar mais. Hellow gente, é ficção! É estranho? É, poderiam ter tido maior cuidado? Sim, mas já foi, não precisa desse auê todo, o bom é se concentrar na interpretação e desenvolvimento das personagens, com o tempo nos acostumamos e vai todo mundo parecer de fato, de acordo com seus parentescos na novela.
Fora essa confusão toda com as idades, escalações e caracterização, a novela apresentou alguns outros furos, como toda novela, por mais que se esforce para não ter, acaba tendo. Maneco, ao que se vê, parece não só estar dando uma banana para agilidade, mas também para os olhos atentos que hoje em dia não deixam escapar nada e apontam os erros mesmo. Ele parece estar escrevendo pra quem só quer ver uma boa historia, apreciar um bom texto e se identificar com os personagens, com toda liberdade de criação, e com isso, intimando seu publico a voar com ele, como diria sua colega Gloria Perez, massacrada pelos furos de Salve Jorge, em alguns casos injustamente. Será que ao invés de mais exigentes, não estamos mais chatos? Bem, particularmente, com a carência de ver novela boa na qual me encontro desde a excelentíssima Sangue Bom, to nem ligando pra idade, furo e demais defeitos que Em família tem e terá ao longo do tempo que ficar no ar, pelo menos por agora tem sido uma delicia acompanhar e apreciar a novela que parece ter sido feita para isso, pra ser apreciada quase que como uma pintura. Pra quem leu o texto até aqui e esta achando que estou defendendo o Manoel Carlos e a novela, eu digo: To defendendo “meishmo”, sou #TeamManeco sempre, pronto, falei, to leve! Bora curtir a novela minha gente.
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