Por Rafael Barbosa
Desde o fim de Avenida Brasil, vinha sendo complicado assistir a uma novela no horário nobre. Pode-se dizer que as que vieram depois, cada qual com seus problemas, falharam na busca por conquistar o coração do público tal qual o grande sucesso de João Emanuel Carneiro o fez. Penso eu, que desafio maior do que resgatar a audiência perdida no horário, é o de conquistar o espaço impenetrável ocupado por Avenida Brasil no coração e imaginário dos telespectadores - Quando Avenida Brasil vai deixar de ser insubstituível? -. Império, nossa atual novela das nove, é mais uma que se lança nesse árduo desafio, e seu autor, o experiente Aguinaldo Silva, parece ter vindo com tudo para superá-lo.
Aguinaldo Silva é um mestre na arte de escrever novelas, entende bem da coisa, por isso está à frente de alguns dos maiores sucessos de nossa teledramaturgia. Particularmente, é um de meus novelistas prediletos, e pelo muito que fez pelo gênero, penso que ele merece respeito e credibilidade sempre. Mas, a bem da verdade, desde o mega sucesso Senhora do Destino em 2004, ele não conseguiu emplacar mais nada que chamasse a atenção e que atingisse tão forte o público, como quase sempre fez ao longo de sua carreira o que o deixou desacreditado junto ao público. Mesmo Fina Estampa, sucesso de audiência, foi apedrejada com críticas por todos os lados. Justamente por essa razão, talvez Império tenha sido aguardada com certo pé atrás, mas contrariando toda essa conjuntura, a novela veio com tudo, repercutiu muito bem nas redes sociais, agradou a crítica e ainda que timidamente, conseguiu elevar a audiência no horário. Império nos apresentou um Aguinaldo inspiradíssimo, como a muito não se via, e mais uma vez, tivemos a sensação de estarmos diante de um novelão com grandes chances de nos fazer se sentar com prazer para assistir uma novela das nove.
Com Império, Aguinaldo apostou no bom e velho folhetim, com todos os seus clichês e desdobramentos previsíveis e fartamente utilizados, mas atendendo as exigências atuais de agilidade, e dinamismo, o que logo de cara funcionou, ainda mais tendo uma direção caprichadíssima assinada por Rogério Gomes como aliada. A primeira fase da novela foi um primor, nos ganhou pelas imagens, pelos personagens apresentados, pela trilha sonora, pela qualidade do texto, interpretação dos atores e enfim, como se diz hoje, Aguinaldo e equipe sambaram lindamente, e se queriam impressionar, na minha opinião, conseguiram com louvor. Embora, a primeira fase tenha deixado saudades, todas essas qualidades se seguiram na segunda, onde a historia começou de fato, e Império continuou empolgante, firme no seu propósito de se estabelecer como um novelão. Entretanto, com dois meses no ar, passado toda aquela coisa de início de novela que quer impressionar, Império parece ter perdido um tanto de sua força, e com isso a empolgação e excitação do público também diminuiu.
Já são muitos os que perderam o encanto pela trama, e que agora torcem o nariz pela mesma, os “reclamões”sempre apostos no Twitter, voltam a fazer o que sabem fazer de melhor: reclamar. E aí, eu lhes pergunto, será que assim como as antecessoras, Império será apenas mais uma novela decepcionante, fadada a fracassar em seu propósito de conquistar ou re-conquistar o público? Afinal, no time das que vieram depois de Avenida Brasil – preferia não classificá-las assim, mas acaba sendo inevitável -, com exceção de Salve Jorge, que enfrentou rejeição desde antes de começar, Amor à Vida e Em Família também empolgaram muito no início, mas se perderam depois. Caros leitores do Cabide, não sei vocês, mas sinceramente acho que ainda é muito cedo para colocar Império no mesmo patamar que suas antecessoras, aliás, a nível de comparação, pelo menos por enquanto, considero Império superior a elas. Para começar, Império é despretensiosa, não se preocupa em tratar de um tema inovador, ousado e diferente, não pretende revolucionar o gênero, e tampouco pretende causar polêmicas que não sejam aquelas motivadas pelo desenrolar natural de sua história, dispensando meios mais fáceis para isso. Ao contrário de tudo isso, Império recorre aos recursos mais simples, menos ousados e mirabolantes, ou seja, um típico prato de “arroz e feijão”, mas que sabe ser mais saboroso quanto um prato sofisticado como os servidos no restaurante do Enrico, personagem de Joaquim Lopes na novela. Isso prova mais uma vez que a máxima “menos é mais” realmente funciona.
Não acho que Império tenha perdido fôlego, e sim esteja respirando calmamente para recuperá-lo com tudo. Em toda a história das novelas a coisa anda assim, tramas são cozinhadas em fogo brando enquanto outras estão em evidência e Império cumpre muito bem isso. Enquanto a trama central é segurada, várias tramas paralelas têm dado conta de preencher os capítulos da novela sem deixá-la cair na monotonia. Aguinaldo dribla muito bem a famosa barriga, criando situações e mais situações que se não fazem a história andar, ao menos proporcionam ótimos momentos, e nos revelam alguma coisa sobre seus personagens, nos permitindo conhecê-los melhor e possivelmente entende-los em suas ações futuras dentro da história. Avenida Brasil também se valia disso, mas mexia e remexia na história sem tirá-la do lugar, ou se esqueceram que Nina só foi conseguir uma prova contra Carminha lá pelo capítulo 100? Além de tudo isso, considero Império uma boa novela, bem mais por seus tipos apresentados do que por sua história que é das mais simples.
Aguinaldo é um grande criador de tipos, sua obra possui uma extensa galeria de personagens marcantes, mas há muito tempo ele não desenvolvia personagens tão bem construídos como os de Império, deixando para trás os tipos rasos e caricatos presentes em seus últimos trabalhos. Zé Alfredo e Maria Marta são grandes protagonistas: complexos, intrigantes, construídos com diferentes contornos, ambos são capazes de nos fazer odiá-los em um momento e amá-los em outro, juntos então são maravilhosos. Cora, a promessa de grande vilã, no quesito maldade ainda fica devendo, mas ainda assim se mostra um excelente personagem, é a Perpétua dos tempos atuais, foge daquele tipo de vilã diabólica, terrível, e se mostra até bastante verossímil por possuir características que podemos encontrar em muitas pessoas por aí. Xana Summer e Téo Pereira são outros tipos populares, que poderiam ser reduzidos a meras caricaturas vazias, não fossem as diferentes camadas imprimidas a eles. Cristina pode ser uma mocinha bem tradicional, mas tem força ainda para ser uma grande heroína, tem suas inseguranças, mas é tinhosa e batalhadora como uma boa heroína Aguinaldiana deve ser. O complexo triângulo formado por Cláudio, Beatriz e Leonardo também é ótimo, a gama de sentimentos envolvendo os três é interessantíssima, e Aguinaldo tem acertado ao retratar a homossexualidade sob um ângulo diferente do que estamos acostumados a ver em nossa teledramaturgia. Lorraine, Naná, Tuane, Ismael, José Pedro, Danielle, João Lucas são alguns dos outros ótimos personagens da novela.. Não é preciso dizer que os interpretes desses personagens todos estejam arrasando né? O que é Lilia Cabral, Alexandre Nero e Drica Morais em cena hein? Somado a isso, estão os diálogos certeiros e espirituosos de Aguinaldo, afinal, sua irreverência é indispensável a qualquer novela sua.
Por tudo isso dito acima, considero que ainda é cedo para desistir de Império. A trama tem ainda muitas possibilidades, muita coisa para acontecer. A julgar pela inspiração de Aguinaldo Silva, e pelos acertos dele até agora, tenho certeza que ele deve estar preparando uma grande virada que vá fazer a história voltar a ferver em breve, acho que ele merece muito esse nosso voto de confiança. Posso estar sendo muito otimista em relação à novela, posso me decepcionar futuramente, mas acredito bastante na trama, tem sido ótimo acompanhá-la e ainda não houve um capítulo sequer que eu tenha assistido e que não tenha valido a pena parar pra ver. Sempre me divirto, ou fico tenso ou me emociono, ou tudo isso junto. Portanto, deixemos de ser chatos e exigentes e vamos aguardar os próximos capítulos e ver o que Império ainda tem a nos oferecer.
E para você leitor, Império ainda merece o seu voto de confiança?
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