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ENTREVISTA EXCLUSIVA com Marcílio Moraes, autor da série "Plano Alto" da Record


Por Fábio Dias & Rodrigo Ferraz



Ele que já esteve presente aqui em um Profile em 2012, para conferir (clique aqui) está de volta em uma entrevista pertinente falando de "Plano Alto", de obras anteriores, sobre audiência, de como vê o futuro da dramaturgia, entre outros assuntos. Confira abaixo!


Plano Alto é sua terceira série na Record, é mais prazeroso escrever séries que novelas? Qual a diferença entre os processos de criação?
A série permite desenvolver uma dramaturgia mais apurada, porque você tem um fim visível. Na novela, a primeira preocupação tem que ser criar uma história que permita desdobramentos quase infindáveis.
A dramaturgia é uma arte da concisão. A novela exige prolixidade. Essa a contradição. Não que seja impossível fazer boa dramaturgia em novelas, mas as concessões terão de ser  muitas. Você tem que fazer um esforço gigantesco para evitar os chavões do gênero, tipo exames de DNA, nascimento de bebês, noivas abandonando o noivo no altar, os dossiês, etc. Esforço que nem sempre dá certo, em termos de público.
Eu prefiro as séries, que comportam temáticas contundentes, mais ousadia e exigem dramaturgia mais inteligente.

Agora com a série exibida, percebendo sua repercussão, estuda uma segunda temporada? Tem material ou Idea para uma sequência?
Deixei todos os ganchos necessários para uma segunda temporada e estou lutando por ela. Material não falta. Basta uma ordem da direção da Record que começo a trabalhar na segunda e até na terceira temporada.

Plano Alto foi lançada em plena campanha política. Fez parte de alguma estratégia estrear o seriado nesse período?
Uma série de circunstâncias acabaram levando a estreia para a época da campanha eleitoral. De início tínhamos previsto que o lançamento para antes. Não deu tempo. Não foi nenhuma estratégia especial.


Nota-se em você como autor sempre um grande interesse em abordar política em suas tramas. Como você vê o atual cenário político no Brasil?
Gosto de política, mas só tive participação nas décadas de sessenta e setenta, nos movimentos clandestinos.
O maior problema político do Brasil é a falta de debate, digo debate de ideias, acontecendo durante todo o tempo. Qual o programa de debate político ou qualquer outra ideia na televisão brasileira?  Não existe. No máximo, se discute futebol.
Este é o cenário do país, em termos culturais inclusive.  Aquilo que Oswald de Andrade chamava de geleia geral. Grandes problema como a  violência – 56 mil assassinatos por ano – não são discutidos.

Em entrevista ao jornal O Globo, o senhor diz que acredita que seriados é o futuro da teledramaturgia. Por que tem essa visão, em vista que as novelas ainda são o produto de maior audiência do país?
De fato, as novelas da Globo ainda são a maior audiência e continuam sendo responsáveis pelo faturamento da emissora. Mas se você observar bem, verá essa audiência cai ano a ano. Cada novela que estreia bate o recorde negativo da antecessora. Eu acredito que o público está se cansando das novelas, pelo menos essas tradicionais que a Globo costuma exibir, recheadas de chavões, clichês, barracos entre mulheres que se enfrentam, vilões alucinados, gente ouvindo atrás de portas, etc.
A grande moda hoje em dia entre os espectadores de mais instrução são os seriados, especialmente os estrangeiros. Note que a colunista de O Globo escreve muito mais sobre seriados americanos que sobre novelas. Ela própria já deve achar novela um assunto menor.


Essas Mulheres e Vidas Opostas são grandes novelas, pra muitos, as melhores da Record, como foi fazer cada uma?
Essas Mulheres foi minha chegada à Record. Tive um imenso prazer em escrever aquela novela. Chegou um momento em que, por razões orçamentárias, não podíamos mais fazer externas. O desafio foi maravilhoso. Eu tinha que resolver todas as situações nos cenários. A paisagem externa, a vida da corte no século XIX surgiam nos diálogos. Mesmo assim, a novela foi muito bem avaliada.
Já em Vidas Opostas o desafio era trazer para a teledramaturgia brasileira, especialmente seu gênero mais popular, a novela, a vida dos setores marginalizados da sociedade. Uma novela em que metade dos personagens era de favelados. Vidas Opostas abriu um caminho. Outro dia li que, na Globo, o problema atual é que as três próximas novelas se situam em favelas. Antes de Vidas Opostas, botar favelado em novela era tabu na Globo.
Vidas Opostas foi meu maior sucesso na Record. E ao contrário do entendimento de parte da imprensa, o tema de Vidas Opostas não era a violência mas sim a delicadeza. Boa parte dos personagens, como os protagonistas, Miguel e Joana, eram pessoas delicadas. E elas que contavam.

Ribeirão do Tempo e Vidas em Jogo foram as últimas novelas que foram bem na audiência na Rede Record. A que atribui essa queda? O por que acredita que à partir dessas nenhuma mais foi sucesso de audiência? 
As audiências das novelas caíram muito, tanto na Record quanto na Globo, como disse acima. As razões, a meu ver, são um certo cansaço do espectador com o gênero.
Claro que para a Record, a queda foi mais acentuada e dramática. Eu prefiro não arriscar uma análise sobre as razões desta queda.

Acho que, se acertarem no horário e na temática, as novelas da Record ainda podem vir a atingir índices maiores. Por acertarem na temática quero dizer produtos diferenciados do que a Globo faz, histórias mais ousadas e inovadoras. Vamos ver. 

Há uma previsão que sua próxima novela seja no final de 2015. Já tem alguma sinopse ou ideia? Alguma coisa que pode adiantar?
Tenho algumas ideias mas é cedo para falar. Não escrevi nenhuma sinopse ainda. Vamos aguardar.

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