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#Prontofalei: O super Aguinaldo Silva e sua genialidade em Império!

              
Por Rafael Barbosa

Há algum tempo fiz um post para o Cabide sobre Império, nele avaliei a atual novela das nove como sendo a melhor dentre todas do período pós-sucesso Avenida Brasil, e propus que déssemos a ela a chance de se mostrar um grande novelão. Confesso que me frustrei com a maneira que a novela foi se desenrolando após aquele post, e percebi que talvez eu tenha sido otimista demais.  Senti falta de grandes desdobramentos, de viradas impactantes e acabei me cansando com tanta enrolação em torno da trama central no que dizia respeito à paternidade de Cristina, tanto que deixei de acompanhar a novela com interesse, acho que demorou demais para se chegar ao que realmente interessava, e quando chegou não foi lá essas coisas. Com os rumos que Império foi tomando, percebi que no quesito história a novela realmente não tinha tanta força.


Apesar de tudo, Império sempre conservou qualidades que para mim a mantém no posto de melhor novela pós Avenida Brasil. Embora com uma trama simplesinha demais, Aguinaldo como o bom mestre que é na arte de estruturar o capítulo de uma novela, nunca se acomodou e sempre buscou preencher os de Império com variados acontecimentos e situações em seus vários núcleos, e um bocado deles proporcionou boas cenas e oportunidades de o elenco brilhar, ainda que não tenha conseguido evitar em vários momentos a sensação de enrolação. Ter uma trama paralela com tanta ou mais força que a central como a do núcleo de Cláudio Bolgari, colaborou e muito nesse sentido, aliás, tal paralela poderia ser a trama central de uma outra novela, tamanho o acerto de Aguinaldo em seu desenvolvimento. A família Bolgari protagonizou emocionantes cenas e promoveu importantes e necessários instrumentos de reflexão. Mas muito mais importante do que isso, ele acertou em cheio foi na construção de seus personagens, eles sim, na minha visão, sempre foram toda a força da novela. Os tipos de Império, em sua maioria são riquíssimos - Comendador que o diga - E dentre eles, um dos maiores destaques é a megera Cora, para quem toda a atenção do público que assiste Império deve estar voltada na atual fase da novela.
Cora foi prometida não como uma vilã, mas como uma vilã daquelas. A personagem teve a honra de ser interpretada primeiramente por uma impressionante Marjorie Estiano na primeira fase, e posteriormente por uma entregue e magistral Drica Moraes, e o melhor disso foi a afinidade entre a interpretação de ambas. O desenvolvimento da novela acabou por frustrar todos aqueles que esperavam de Cora uma grande vilã, que seria responsável por maldades e mais maldades. Nesse quesito Cora ficou devendo, mas o fato de não ser uma vilã como esperávamos nunca fez de Cora um personagem qualquer, muito pelo contrário, sempre a achei rica em possibilidades e muito bem construída, por isso discordo quando dizem que Drica Moraes merece um papel melhor, que a valorizem de verdade e blá blá blá. Imagino o quão deve ser prazeroso para Drica interpretá-la e ainda acho que viver Cora foi um dos melhores, se não o melhor momento de sua carreira. Claro que Aguinaldo falhou sim, não explorou todas as possibilidades da personagem, com certeza ela renderia muito mais se tivesse tido mais importância na trama, acho que ela foi bem melhor construída do que conduzida, mas isso reflete um problema geral da novela e não só da personagem. Acredito que o erro maior tenha sido na forma de divulgar Cora, que foi vendida como uma personagem diferente do que ela é realmente, o que fez o público esperar dela caractrísticas e ações que não condiziam com seu perfil. Prometeram uma coisa e apresentaram outra, portanto não culpo os que reclamam disso, mas considero um equívoco desqualificar a personagem. Em meio a essa conjuntura, após capítulos e mais capítulos, armações, tramóias diferentes da falsa puritana Cora, Aguinaldo se vê com um problemão nas mãos: A saída de Drica Moraes do elenco.


Sem dúvida, essa deve ser uma das adversidades mais complicadas que um autor se depara quando está escrevendo uma novela, afinal: como se desfazer de um personagem tão importante para a trama. No caso de Aguinaldo, o problema não é só a ausência de Cora, mas a perda de uma grande atriz em seu elenco como é Drica Moraes, imagino o baque que a saída dela deve ter causado no autor, diretor, nos colegas de elenco e de todos os outros envolvidos em Império. E eis que Aguinaldo encontra uma solução inusitada: trazer de volta Marjorie Estiano, que tão maravilhosamente viveu Cora na primeira fase sendo aclamada pelo público, para substituir a Cora de Drica, com o pretexto de que a personagem rejuvenesceu. Minha primeira reação ao saber da novidade foi um susto, afinal tal absurdo comprometeria toda a característica realista da novela. Minha preocupação não foi a troca de atrizes, porque isso é recorrente em nossa teledramaturgia, muito menos idade, mas sim a “desculpa” para a troca. Passado o susto, fiquei ansioso para como se daria a volta de Cora jovem e passei apenas a esperar. De qualquer modo avaliei a decisão de Aguinaldo Silva como ousadíssima e corajosa, afinal acho que dificilmente um autor arriscaria assim a credibilidade de sua trama, e como ele não é qualquer autor, assim ele o fez, arriscou tudo. Ontem, ao ver a cena do Comendador diante de Cora, 28 anos mais jovem, na pele de uma incrível Marjorie Estiano, em um cena brilhantemente escrita, interpretada e dirigida, só pude constatar o quão certeira foi a solução encontrada por Aguinaldo e o quanto ele é gênio.


A situação é absurda? É, mas é novela e aqui faço minha as palavras de uma de nossas maiores atrizes, a diva Susana Vieira ao falar de seu desejo em trabalhar com Glória Perez e João Emanuel Carneiro durante sua entrevista para o Damas da TV exibido no  viva “Gosto deles porque eles vão as raias do absurdo, e isso também é novela”, falou um dos pilares da teledramaturgia, que esteve presente desde o seu início, passando pelos anos dourados e permanecendo até hoje. Acho que é isso que falta às novelas contemporâneas: ousadia, transgressão, coragem de mergulhar na fantasia, de ir às raias do absurdo como disse Susana. O absurdo, a fantasia de uma novela não é o mesmo que incoerência. Não à toa, as novelas de hoje encontram tanta dificuldade para agradar o público, e os grandes sucessos são cada vez mais raros, dado esse patrulhamento em cima delas, essa coisa de ditar o que pode ou não acontecer numa trama, - ah, isso na vida real não é assim, é assado - essa preciosismo em torno do teor real de uma novela, de levar tão a sério as situações ali apresentadas, acho que é por isso que muitas delas hoje perderam a graça. Acho que assistir novela deve ser como passear de barco ou viajar de ônibus contemplando as paisagens pela janela, a gente deve embarcar, viajar, esquecer de tudo e se envolver com aquilo. Aguinaldo nunca teve medo disso, talvez por isso muitos peguem no pé dele, ele é abusado e isso falta em muitos autores.


A cena de Cora rejuvenescida com o Comendador poderia ter sido pavorosa, dada a situação, mas não foi graças a sua realização. Tudo depende da execução, se foi bem feita, qualquer ideia do autor torna-se uma grande ideia e foi o que aconteceu ontem. Aguinaldo escreveu uma grandiosa cena, acertou em cheio nos diálogos e o argumento que usou para o rejuvenescimento de Cora não poderia ser melhor: seu amor pelo Comendador, que a fez se guardar para ele uma vida toda, a tornou jovem como era no dia em que eles se conheceram, mesmo dia em que ela deve ter se apaixonado e isso, pelo menos em mim, causou aquilo que o mestre em roteiro Syd Field chama de “suspensão da descrença”, ou seja, comprei a história, acreditei nela e pronto, espero que esse seja o efeito causado na maioria. Alem de tudo isso, Aguinaldo não poderia desperdiçar uma personagem como Cora simplesmente a matando - um caminho óbvio e o mais fácil para onde qualquer autor correria se não quisesse correr riscos -, por isso trazer de volta Marjorie, que fez o público vibrar na primeira fase da novela foi uma sacada de mestre. Gerou burburinho, repercussão, fez todos quererem ver a cena (imagino que a audiência deve ter sido altíssima), manteve a personagem na novela, pode prosseguir com sua história e ainda valorizou a imensa afinidade na interpretação das duas atrizes que deram vida a Cora, quase que com uma composição única, afinal Marjorie como Cora é toda a Drica, desde a expressão até os gestos, isso não poderia ser ignorado, esquecido. O saldo final de tudo isso, na minha opinião, foi uma cena épica que coloca Império na história da teledramaturgia, que sempre será lembrada por esse inusitado, por essa ousadia. Cora será um personagem marcante por ter tido duas grandes interpretes ao longo de sua trajetória. Se Aguinaldo optasse por levar em conta o teor realista da trama, não teríamos a grandiosa cena de ontem, um dos melhores momentos de toda a novela, e talvez Império não seria lembrada no futuro, portanto palmas a ele. Império ganhou vários pontos comigo!! 

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