Por Rodrigo Ferraz
Munir Kanaan já esteve aqui pra falar do "Hospital Feliciano Maravilha", um vídeo de sua criação que bombou na net, onde fiz a produção. Mas, na saborosa entrevista que você verá a seguir, ele fala bem mais do que isso, da preparação de seu novo papel na aguardada minissérie "Dois Irmãos", de outros papéis marcantes e muito mais, eu se fosse você não perderia...
Vamos começar falando de Dois Irmãos. Participar de um processo de preparação para uma obra com direção de Luiz Fernando Carvalho tem um diferencial, não?
Sem dúvida. Nesse processo é possível perceber na prática que todos os elementos são fundamentais para se contar uma história com verdade e beleza. Do retrato na parede gasto pelo Tempo ao protagonista.
Tanto no set como nas preparações, o Luiz fornece ferramentas para o elenco e guia com maestria. As palavras são certeiras e ditas no momento exato. Pelo menos é assim que sinto e, apesar de ainda me encontrar em processo de aprendizado, acho que a gente bateu um bolão juntos.
Percebo que tudo é pela obra, nada vem na frente, e se o ator também tem essa postura, basta se colocar como mais uma peça e deixar fluir. O resto é suor, boa vontade e quilometragem, isso pode te levar além.
Não se satisfazer, perceber que sempre é possível ser melhor do que se é. Por isso falei da quilometragem, ninguém vira um grande jogador sem entrar em campo. Eu desejo ir além, pretendo me tornar um grande ator. Desejo jogar e me jogar, ganhar ainda mais segurança para ir cada vez mais distante. O ideal seria jogar sempre e treinar muito entre um jogo e outro. Imagina poder se dedicar oito horas por dia em se investigar, afinar seu instrumento – sua voz, seu corpo, seu intelecto, sua criatividade. Esse é o ideal, mas para isso é necessário organização, estabilidade na vida prática. Luto por isso, e trabalhos como esse, como Dois Irmãos, são capazes de te colocar nesse caminho. Talvez o maior desafio seja se manter nele.
Quais atores você mais admira?
Irandhir Santos, Wagner Moura, Ricardo Darín. E sou muito fã do Criolo, que não é ator, mas é um artista extraordinário e um dos maiores poetas contemporâneo.
Falando em poeta, você interpreta Abbas na minissérie, um poeta boêmio. Na terceira fase, o seu personagem seria interpretado pelo Antonio Abujamra...
Quando soube que ele faria Abbas, fiquei muito feliz, entusiasmado. Tive muitas conversas imaginárias com ele. Pensava no que eu deveria dizer sobre a personagem e no que eu não deveria dizer. Tentava visualizar como ele faria, inclusive para que isso afetasse o “meu” Abbas. Cheguei a fazer uma montagem colocando uma foto minha caracterizado de Abbas ao lado de uma foto dele.
Infelizmente a gente nem se conheceu, ele morreu no dia do meu aniversário, irônico isso. Eu estava no set quando me deram a notícia. Inclusive, já estava caracterizado de Abbas, imediatamente lembrei da bruxa do Tim Burton, aquela que se você olhar no olho dela, você assiste a forma como vai morrer. O recado foi dado, Abbas vai ter a morte dos escolhidos, aos 82 anos, depois de viver com muito humor, ironia e poesia.
Já sabem quem o substituirá?
Não faço ideia, mas é ao Abujamra que Abbas é dedicado.
Você já havia feito alguns outros trabalhos na Rede Globo,conte alguns momentos marcantes deles...
Fiz duas novelas, mas não considero ter momentos marcantes nas tramas delas. Na primeira, O Profeta, eu ainda era muito novo, fiz elenco de apoio, aproveitei o máximo para entender a dinâmica da televisão, as câmeras, enfim, a parte técnica. Teve até um momento que ganhei uma trama e foi muito bom porque fui bastante elogiado e precisava desmitificar a televisão, eu tava vindo das Oficinas Culturais de teatro do meu bairro, Itaquera-SP, e a Rede Globo era um bicho muito distante da minha realidade. Isso é marcante pra mim.
Na segunda, Duas Caras, eu entrei pra fazer uma participação de dois capítulos, o personagem não tinha nome, era um cinegrafista que falava três frases e pronto. Era pouco para as pessoas gostarem, mas lembro dos comentários positivos do elenco. Acabei fazendo a novela inteira, o personagem ganhou nome e teve uma pequena trama num certo momento. Pra mim isso foi uma conquista e, por isso, marcante.
Agradeço muito aos autores e diretores de ambas as novelas, foi muito importante pra mim.
E cinema, algum trabalho que considere marcante?
Preciso e quero fazer mais. Sinto que ainda não chegou o filme que vai dividir as águas. Em geral, fiz poucos testes na minha carreira, Dois Irmãos foi meu primeiro teste para televisão. No cinema, em 15 anos, fiz apenas seis testes de longa-metragem, mas fui aprovado em cinco. É muita vontade (risos).
Mas sim, tenho momentos marcantes no cinema, de cada filme carrego um pouco. O primeiro, Nome Próprio, por ser o primeiro, pela preparação no Estúdio Fátima Toledo e pela indicação como melhor ator no Festival de Cinema de Gramado. O Duelo, por ser dirigido por Marcos Jorge, que admiro muito, por antagonizar o personagem do José Wilker e por ser parceiro de cena de Joaquim de Almeida. Em 400 contra 1, fiquei por 20 dias frequentando um presídio. Pólvora Negra foi um filme de terror com quase todas as minhas cenas noturnas, rodado numa cidade de Minas, enquanto simultaneamente eu filmava diurnas de As Doze Estrelas, em Paulínia... Muitas vezes a estrada era o momento que eu tinha pra dormir... Tudo isso me marcou.
Com Joaquim Almeida nos bastidores do filme O Duelo |
Teatro, televisão ou cinema?
Roteiro e direção! O prazer está na história e na forma como ela é contada e não em qual veículo ela será apresentada. Dois Irmãos é sublime por isso, soma a direção do Luiz com roteiro da Maria Camargo, que é brilhante, uma reação maravilhosa ao livro do Milton Hatoum.
Recentemente você estava em cartaz com Opus 12, como foi fazer esse trabalho?
Opus foi um trabalho incrível. Começando pelo texto do Sergio Roveri e pela direção do José Roberto Jardim, ambos optaram pelo risco total, quebrando todas as convenções, buscando um novo lugar para comunicar. É muito bom pisar nesse chão que se move. Além disso, o elenco era formado só por amigos, isso soma a vontade de fazer a peça com a de estarmos juntos, e ficar em cartaz na Praça Roosevelt é sempre muito bom.
Fazer uma peça com amigos tem algum diferencial?
O prazer aumenta, pois tem o reencontro dentro e fora do palco. Tem também a cumplicidade. Mas tudo isso também é facilmente conquistado com elenco que não se conhece, porque quando se está em cena, você fica escancarado, e isso é lindo. Esse fenômeno comove e aproxima as pessoas. Apesar de ser público, é muito íntimo.
Stil do viral Hospital Feliciano Maravilha |
O vídeo Hospital Feliciano Maravilha foi criado com a intenção de fazer sucesso, mas foi surpreendente ele ter virado viral, não? Relembre pra gente como foi a criação dele...
Na verdade eu não criei o vídeo com a intenção de fazer sucesso porque não tive tempo de pensar nisso. Certo dia eu acordei com o roteiro inteiro na cabeça, lembro que nem quis sair da cama pra não perder a ideia e pedi pra minha namorada pegar o computador. Debaixo das cobertas escrevi o roteiro até o fim. Gravamos naquela mesma semana, na correria e na guerrilha. Eu mesmo montei, mas fiquei na dúvida se deveria fazer o upload. Mostrei pra dois amigos, um não se empolgou muito e fez algumas criticas, já o outro rolava de rir, chorou de rir. Acabei fazendo o upload porque já estava pronto, não custava nada. Uma hora depois as visualizações estavam travadas em 301, o que já era muita gente para um único dia. Pesquisei e descobri que o Youtube trava as visualizações em 301 quando elas estão muito rápidas, isso é uma medida para verificar se existem robôs tocando o vídeo. Aí sim eu fiquei ligado, atualizando meu navegador de meia em meia hora. Quando foi mais tarde, o Youtube liberou os números, era inacreditável, fechou o primeiro dia com mais de 150 mil visualizações. No final, ultrapassamos um milhão, o vídeo foi matéria e capa em diversas mídias, inclusive de grandes jornais impressos.
E pra finalizar conta pra gente o que vem por aí depois de Dois Irmãos?
Ainda não sei... Estou apaixonado por esse atual trabalho na televisão, quero continuar nesse caminho, ele pode me levar além. Acredito que tem coisa boa por vir...
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