Por Rafael Barbosa
Fenômeno nas redes sociais e com uma excelente audiência, Verdades Secretas consolida-se como um grande sucesso. Diante do atual cenário, em que o até então principal horário de novelas da Globo, o das nove, pena para se manter na liderança, o desempenho da atual novela das onze funciona como um afago para os responsáveis pelo setor de teledramaturgia da emissora. Imagino que Walcyr Carrasco, o autor, deve estar sorrindo de orelha à orelha – certo ele. Mas o sucesso da novela, que é a primeira inédita do horário antes destinado a remakes, se mostra bem mais importante. O sucesso de Verdades Secretas indica os novos rumos que a teledramaturgia deve tomar, abrindo caminho para mais novelas que sigam a mesma linha de liberdade e ousadia.
Walcyr Carrasco e o diretor da novela, Mauro Mendonça Filho, tiveram total liberdade para construir Verdades Secretas. Como bem apontaram internautas, nunca ouve uma novela tão ousada. Verdades Secretas tratou de drogas diversas, prostituição, traição, aborto, busca pelo poder e pelo dinheiro fácil e foi a fundo nas precariedades dos sentimentos do ser humano. Além disso, brindou o público com caprichadas cenas de sexo e nudez, como se é impossível ver em outros horários nos dias de hoje. As temáticas ou as cenas picantes não se mostraram em nenhum momento apelativas, já que sempre houve ali uma boa história que fisgou o público do início ao fim. Fora o fato de tudo ter sido tratado com muito bom gosto e o apuro estético de uma direção fantástica – a meu ver, o melhor trabalho de direção dos últimos tempos. Mesmo não tendo acompanhado afinco como gostaria, e por isso não sou um fã apaixonado da novela como milhares de pessoas, reconheço Verdades Secretas como uma grande novela. Do que vi, notei alguns deslizes no texto em alguns momentos, com diálogos mastigadinhos, por vezes infantis e exagerados, o que destoa da densidade da trama, mas que não chegaram a incomodar tanto graças à desenvoltura do elenco e o trabalho de direção, portanto não comprometem o conjunto. Os termos destacados acima, de toda essa minha curta análise da novela, são o que considero mais importante e o que resume bem o mérito de Verdades Secretas.
Quando cito Liberdade e Ousadia, não me refiro apenas aos temas e cenas quentes, mas também a ousadia e liberdade criativa. Está mais do que claro que cancelar as releituras de clássicos (o que considero bom, mas que não reflete avanços para o Gênero) para investir em obras inéditas, se mostrou um grande acerto da Rede Globo. O horário permite aos autores apresentar temáticas diversificadas , discutir assuntos relevantes e de forma mais incisiva, livres de patrulhamento. Além disso permite mais liberdade em criar situações, testar estilos diferentes, novas possibilidades de histórias e personagens, que sejam mais elaboradas e que fujam do convencional, daquela estrutura engessada de telenovela. Todos esses elementos podem chamar a atenção de um público que hoje procura entreter-se mais com séries americanas, deixando de lado as telenovelas. Sem dúvida esse horário das onze é o ideal para testar, arriscar, investir em renovação e com isso dar um novo fôlego para teledramaturgia da emissora.
Verdades Secretas chega ao fim nessa semana, e parabenizo Walcyr, Maurinho, todo elenco, em especial as atrizes Drica Morais, Camila Queiroz, Marieta Severo e claro, para maravilhosa Grazzi Massafera, pelo trabalho bem feito. Mas meus aplausos mais fortes vão para Globo por permitir a novela no ar e por abrir esse novo caminho. Que novos autores tenham a mesma oportunidade de Walcyr e exerçam a mesma liberdade com louvor. Que venham mais boas histórias. Quem ganha o público, que terá entretenimento para todos os gostos. Pena ser só uma novela por ano, fosse uma atrás da outra, como nos outros horários, prevejo que este seria disputadíssimo pelos autores. Vida longa às novelas das onze horas.
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