Por Rodrigo Ferraz
Como sabem, raramente falo de política por aqui, minha responsabilidade no site é predominantemente cultural, talvez por isso mesmo não vou me calar, preciso falar, no caso escrever. Chegamos num ponto onde ficar em silêncio é ser conivente a corruptos e ignorantes. Michel Temer, presidente temporário do país, voltou atrás e o Ministério da Cultura vai voltar a existir, e eu te pergunto: como profissionais de cultura são chamados de vagabundos?
Vamos por partes, o MinC (assim como toda politica nacional precisa ser reformulado), nem toda reformulação precisa começar do zero, por isso nunca fui a favor da extinção dele... Nossa cultura é muito frágil, os profissionais de cultura existem aos montes, mas graças a televisão, pouco mais de 10% são conhecidos nacionalmente, e graças ao cinema nacional pouco menos de 5% somam-se, uma parcela pequena da classe artística brasileira. Você sabia que muitos projetos não são financiados com a famosa Lei Rouanet? E nem todos que são autorizados a captar recursos são aprovados. Te pergunto, você sabe como funciona a lei? A Lei Rouanet permite que uma empresa use 6% do IRPF para pessoas físicas e 4% de IRPJ para pessoas jurídicas, para o captador de recursos e o produtor conseguir dinheiro para projetos culturais sendo debitado da empresa...
Está quase confirmado que, espetáculos grandes e shows que já têm lucro garantido, com artistas consagrados não vão mais ter a possibilidade de tentar conseguir esse dinheiro. Como disse, esse dinheiro não vem da cultura e sim das empresas que escolhem em quem "investir". Essa porcentagem é tão irrisória e tão complicado viver com ela e difícil de consegui-la, que te pergunto: imagina sem essa lei? Acredito, sinceramente que tudo precisa ser mudado, uma nova lei deveria existir pra facilitar o fazer arte. Agora, ser chamado de vagabundo eu não admito, muito menos por alguém que trabalha menos horas que eu e a maioria dos colegas de arte que conheço. Marco Feliciano como muitos colegas dele tem uma carga horária insignificante.
A arte, além de fomentar estofo cultural em uma pessoa, pode abrir muitos horizontes. além de empregar muita gente. Sabe quanto o cinema nacional injeta na nossa economia? 19 bilhões anuais, a bendita e maldita Lei Rouanet não é usada por muitos anônimos como disse acima, e alguns famosos como Antonio Fagundes, há alguns anos o consagrado ator não usa a lei, ele investe dinheiro do seu salário em seus espetáculos, depois o ingresso do teatro é total lucro seu e de sua produtora, mas te pergunto isso é fácil fazer?? Não, não é... A quantidade de gente que é empregada graças a arte é gigante, de marceneiro à eletricista passando por atores e prdução. E ainda tem gente, como o infeliz deputado Marco Feliciano dizer que somos vagabundos??
O dramaturgo demora geralmente anos pra fazer um texto, o diretor demora semanas (no mínimo) pra criar uma concepção, os atores precisam entender seus personagens, ensaiar e decorar suas falas e isso demora. O cenógrafo ao criar e confeccionar seu cenário, vai tempo e têm outras inúmeras funções que não escreverei aqui pra esse texto não ficar longo demais... Fagundes consegue tirar seus projetos do papel com facilidade porque é muito bem remunerado pela Rede Globo, mas e quem não é?
A fusão dos Ministérios de Educação e Cultura é de uma burrice sem precedentes. Costumo afirmar: Educação sem Cultura é uma educação incompleta, Cultura sem Educação é uma Cultura limitada. Pois ambas são primordiais, andam lado a lado, porém são coisas distintas! Que o MinC volte mais forte, com mais verbas, repartindo sua verba com uma parcela maior da classe artística. E sobre política nacional?? Bom, essa sim tem que começar do zero, mas isso é outro assunto...
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