Por Fábio Dias
Nessa sexta-feira dia 9, acontece uma estreia bem especial. Trata-se de "Nosso Luto", mais uma peça em que meu parceiro aqui no blog Rodrigo Ferraz, dirige. Conheci poucas pessoas que tanto entendem e amam o teatro como o Rodrigo. "Nosso Luto" tem texto de Kiury, aliás um lindo texto. Já assisti algo desse autor, e foi uma peça que gostei muito. Por tudo isso gostaria muito de estar em São Paulo para assistir a peça, mas infelizmente não poderei. Só posso desejar uma coisa meu amigo, MERDAAAA. Abaixo fiz uma entrevista com o Rodrigo para que ele fale mais da peça, do seu amor pelo teatro entre outros assuntos. Confira, e não deixe de ver a peça, essa primeira temporada conta apenas com quatro apresentações.
Você é um amante das artes, mas especialmente do teatro. Como e quando surgiu esse interesse pelo teatro?
Fazia teatro para meus familiares mesmo quando nem sabia o que era teatro. Risos. Acho que nasceu em mim... Primeira peça infantil que vi foi Saltimbancos, clássico do Chico Buarque, ainda é marcante pra mim, a adulta foi Caixa 2 do Juca de Oliveira, também lembro de detalhes... O olho brilha até hoje como se eu tivesse me apresentando pela primeira vez ou estando na platéia!
Do que se trata Nosso Luto?
Esse momento delicado que é a morte e é tão pouco falado é abordado na peça, não falamos do antes, falamos do depois. Julieta perdeu um ente muito amado e vemos o que ela passa das primeiras horas de luto até completar um ano, de forma poética queremos emocionar e falar do tema sem medo.
Você dirigiu O Que terá acontecido a Nayara Gloria, que era uma comédia. Nosso luto, trata-se de um drama, certo? Como é essa transição?
Sim, é um drama... Não é bem uma transição, até porque fiz outros trabalhos entre um e outro, a comédia: "O Que Terá Acontecido a Nayara Gloria?" foi a certeza que queria ser diretor, já havia feito assistências e dirigido uma perfomance em homenagem a Etty Fraser, fizemos em Nayara Gloria de um vamos brincar de fazer teatro para vamos fazer uma peça a sério, foi uma época marcante. Agora sobre Nosso Luto, sempre fui encantado por dramas, talvez até mais do que comédias, minha primeira assistência foi um drama e olha foi inesquecível! Mas focando em Nosso Luto, é talvez o meu trabalho mais maduro, soltei a criatividade, e tinha um texto lindo e poético nas mãos, um elenco entregue e apaixonante, certamente é dos processos mais felizes da minha vida, pela leveza da equipe, isso facilitou o drama e o tema pesado não serem um fardo.
Com Etty Fraser
Como surgiu essa parceria entre você e entre o autor Kiury na peça Nosso Luto?
Conheci o Kiury no mesmo dia que você, fomos assistir "Um Dia Você Vai Entender", e ficamos encantados, né? A peça era intensa e leve ao mesmo tempo, a dramaturgia do Kiury era saborosa, cheia de nuances e dando espaço até pra quem tinha papel pequeno... Desde então Kiury e eu começamos a nos falar, um dia eu falei brincando: que se o Filipe (com todo respeito, Filipe,rs) não quisesse mais dirigir Um Dia, era pra ele não esquecer de mim, acho que isso ecoou no ouvido dele. Em fevereiro de 2017, sim esse ano, ele me perguntou se eu tinha interesse em ler uma peça dele e se gostasse, se quisesse dirigir... Ao termino da leitura já estávamos escalando o elenco, é daqueles dramaturgos que todo mundo merece ouvir/ver/trabalhar, e ele não é só o dramaturgo da peça, é meu assistente de direção, e um assistente que ajuda muito no processo, me respeita como diretor e estimula a minha criação como poucos e não posso esquecer que a produção é nossa, logo é uma baita parceria em todos aspectos. Agradeço a Deus, Dionisio e todos que conspiraram pra essa parceria dar certo, e como está dando!
Como chegou ao elenco de Nosso Luto?
Desde o começo Kiury e eu queríamos acima de tudo um elenco harmônico, começamos e terminando de escalar o elenco juntos, as atrizes ele já conhecia, os atores eu já conhecia... Não fizemos testes, fizemos sondagens, e hoje vendo o elenco reunido parece que a peça foi feita pra eles. Tenho que agradecer demais ao talento, a entrega e a confiança de Ju Carrega, Sergio Seixas, Danilo Rodriguez e Carola Valente, atores que se depender de mim, vão estar nessa jornada e em muitas outras.
Com elenco e autor de Nosso Luto
Em tempos difíceis para as artes, como é viver dela no Brasil?
A Arte sempre foi terciária no país, sempre foi terceiro plano, independente estarmos num momento bom ou não, mas atualmente a um congelamento na cultura em todos os sentidos. No Rio o prefeito Crivela não paga o que a prefeitura já havia garantido pagar a inúmeros grupos, em São Paulo o Doria compra ingressos apenas pra Virada Cultural e acha o suficiente; Curitiba e seu grande polo cultural e teatral hoje em dia ta mais frágil, mais ainda temos Marcio Abreu e a potência do seu teatro, posso estar exagerando mas vejo que no resto do país é ainda mais difícil, tomara que eu esteja errado, mas o dia que nossos representantes (sim, é isso que os políticos deveriam ser) se preocuparem com a educação, a cultura e a saúde do brasileiro a chance de evoluirmos em todos aspectos é grande.
Dentre todas suas funções no ramo das artes e comunicação, qual a sua favorita e por quê?
Cada uma me completa de uma forma, mas não vou ser hipócrita ser diretor é a que mais me completa, mas amo muito fazer entrevistas no nosso Cabidão, me alimenta, me ensina muita coisa ouvir os nomes que já entrevistei seja por escrito seja ou em vídeo, o site me fez uma pessoa e um profissional das artes, ser produtor é gostoso quando se acredita no projeto e o projeto fluir fácil, agora quando não se acredita e ele não flui, é bem complicado gostar da mesma forma, e atuar?? Ainda gosto e muito, mas não me completa tanto, talvez por ser uma pessoa com olhar mais panorâmico, uma vez ouvi isso do Jô Soares ou do Otavio Martins (não sei ao certo qual dos dois) se não me falhe a memória; se você lê um livro e foca em um personagem você tem tudo pra ser um ator, se você foca em todos personagens você tem mais chances de ser um diretor, eu faço parte desses leitores.
Quais são as pessoas que você mais admira no mundo das artes (TV, CINEMA e TEATRO)?
Que pergunta difícil, Lilia Cabral é minha atriz favorita, mas não tem como não citar nomes como Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, entre tantas outras atrizes, vivemos num país de atrizes, mas há atores sensacionais, como Mauro Mendonça, Tony Ramos, Daniel Oliveira... Quando eu vejo na área da direção pensando em teatro, são tantos, Zé Celso é o mais original de todos, brasileiro até o último fio de cabelo, Nelson Baskerville transforma tudo em poesia, Otavio Martin***s vai do besteirol à aula de história passando pelo texto cabeçudo com uma verdade. Na TV e no cinema e gosto demais do Luiz Fernando Carvalho, Ricardo Waddington, Mauro Mendonça Filho, Jose Eduardo Belmonte, Aluizio Abranches, Walter Carvalho, Monique Gardemberg (também arrasa no cinema), Sandra Werneck e tantos outros. Na dramaturgia, Nelson Rodrigues diria toda unanimidade é burra, mas ele é quase uma e eu não fujo a regra, todas histórias que conheço eu amo e muitas delas ainda são muito atuais, Plinio Marcos sabia explorar a marginalidade com uma magia que faz eu ficar com um brilho no olhar sempre que vejo uma montagem dele, Lauro César Muniz é dos autores mais completos que eu conheço, Alcides Nogueira é outro e ambos são pessoas encantadoras, além de ter talento de sobra, também sou fã de Maria Adelaide Amaral, Ricardo Linhares... A dramaturgia contemporânea tem vários nomes pulsantes que não conseguiria citar um ou dois... Bom se você reparar eu só escolhi brasileiros, mesmo tendo algumas referências no mundo artístico internacional eu quero fazer arte para o Brasil, então o que preciso fazer?? Usar e abusar dessas e outras referências que eu só não citei pra essa resposta não ficar maior ainda, rs, porém se me permite também admiro demais hoje em dia jornalistas ou amantes da arte que escrevem com bravura por puro amor a arte, como nós, Michel Fernandes, Kyra Piscitelli, Nanda Rovere, Miguel Arcanjo, Claudia Rolim e tantos outros. Bom já me estendi demais... Mas vou fazer um convite aqui mesmo, espero vocês no Teatro Ribalta dias 9, 16, 23 e 30 de junho são poucas apresentações, pra dar gostinho de quero mais, mas talvez ficamos só nessa temporada, então corre lá, na nossa fan page você descobre mais informações e descobre como pagar ainda mais barato pelos nossos ingressos.
Sobre a peça
Nosso Luto é um espetáculo simbólico sobre uma das fases mais difíceis da vida. Com uma linguagem poética, o texto do jovem dramaturgo, diretor e ator, Kiury, fala sobre o sentimento de dor pelo falecimento de alguém e a dificuldade de encarar o vazio trazido pela morte.
Como aceitar a nova realidade? Como recuperar a força de viver quando a vontade é partir junto com um ente ou um amigo querido?
Os personagens são facilmente identificáveis com figuras do nosso cotidiano, mas são carregados de simbologias. O público é convidado a montar a trama, como se fosse um quebra-cabeça, já que a trajetória dos personagens não é mostrada de modo totalmente explícito; eles carregam um certo mistério.
O espetáculo traz muita espiritualidade, mas sem nenhuma relação com qualquer tipo de religião.
Serviço:
Local: “Teatro Ribalta” Endereço: Rua: Conselheiro Ramalho, 673 – Bela Vista – São Paulo/SP.
* Travessa da Av. Brigadeiro Luís Antônio – Próximo do Metrô São Joaquim
Datas e Horários: Sextas – Feiras, às 21h. (de 09/06/2017 até 30/06/2017)
Ingressos: 40 reais (inteira) e 20 reais (meia)
Mais informações:
WhatsApp: 11 9 72700882 / 11 9 72208582
Facebook: www.facebook.com/NossoLuto
Instagram: www.instagram.com/NossoLuto/
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Sobre o entrevistador
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