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Verão 90: Isabelle Drummond como a gente nunca viu

Por Rafael Barbosa


Sempre que uma novela estreia, tem início também uma série de comparações. Se a nova trama não agrada por alguma razão, essas vem acompanhadas de críticas. Recentemente, no twitter, presenciei uma discussão sobre qual “a pior mocinha de novela das sete”, que compara a Manuzita, da atual “Verão 90”, com mocinhas anteriores, como as vividas por Marina Ruy Barbosa e Camila Queiroz, respectivamente em “Deus salve o rei” e “Pega pega”.  

A protagonista de Isabelle Drummond vem sofrendo críticas, algumas direcionadas a sua interpretação, mas em sua maioria voltadas a novela como um todo. Por outro lado, há quem esteja adorando rir e se divertir com Manuzita, tanto que na última semana, em que a mocinha vem tendo bastante destaque graças a uma virada da personagem, Isabelle tem recebido elogios nas redes sociais.  

O fato é que ver a atriz em um papel bastante diferente de tudo o que fez até então – essa é a primeira vez que ela se aventura na comédia – não deixaria de causar algum estranhamento. Mas, como adoro dar pitacos e como sou um grande admirador do trabalho de Isabelle como atriz, tratarei de defendê-la, já avisando. 


Mocinha desafiadora
Quem acompanha a carreira de Isabelle Drummond, sabe que Manuzita foge totalmente dos tipos interpretados por ela até então. Mais acostumada a dar vida à mocinhas, ora fortes, ora frágeis demais e quase sempre muito românticas e dramáticas, no terreno da comédia, Isabelle pouco transitou. Pode-se dizer que o mais próximo de uma personagem cômica que ela fez até então foi a Bianca de Caras e Bocas, um grande sucesso na sua fase ainda adolescente. 

Manuzita não deixa de ser mais uma mocinha em sua carreira, afinal é do bem e essencialmente romântica, mas, por outro lado, é definitivamente engraçada e vai de encontro ao tom despudoradamente caricato que o texto de Paula Amaral e Izabel de Oliveira imprime, bem como a direção de Jorge Fernando – que reencontra a atriz dez anos depois do sucesso de Bianca. 

Manu é uma atriz canastrona, sem talento, atrapalhada e desengonçada. Ao mesmo tempo é solar, alegre, espirituosa e sem qualquer controle sobre o que sente. Guarda ainda uma certa pureza e ingenuidade inerente as mocinhas. Além disso, vive as situações mais absurdas. Do figurino ao penteado, a personagem talvez seja a que melhor representa a atmosfera da novela como um todo. Um tipo como esse, com uma personalidade tão peculiar, exigia uma representação bastante verdadeira, apesar da caricatura do texto e é isso que Isabellle Drummond entrega ao público. 


Sem medo do ridículo
Ver Isabelle em cena como Manu, me faz pensar em outra atriz. Em 2009, após viver uma Helena de Manoel Carlos na novela Viver à Vida e ser massacrada pela crítica, Taís Araújo chegou a pensar em desistir da carreira, mas, ao refletir a respeito, transformou tudo em aprendizado. Li em uma entrevista sua, que foi a partir de Helena que entendeu que a profissão de atriz significa correr riscos e que precisava se aventurar por caminhos ainda não testados. 

Ainda segundo Taís, essa experiência definiu a atriz que ela seria. Logo após o trauma, veio a volta por cima e em 2012, ela brindou o público com a sua empreguete Penha em Cheias de Charme, com uma composição bastante diferente de tudo que ela havia feito até então. 

É muito comum ler ou ouvir outras atrizes e atores, sejam eles de teatro, cinema ou televisão, afirmarem que a profissão exige entrega, desprendimento, as vezes até mesmo falta de pudor e ausência de medo do ridículo. Particularmente acredito que essa deva ser a única regra para a profissão. E é por tudo isso que considero o fato de Isabelle se arriscar, fugindo do lugar comum, já faz de Manuzita um acerto em sua carreira. 

Para viver um personagem como esse, penso que se faz necessário se apropriar do texto e crer nele, por mais absurdo que possa parecer e é isso o que se pode sentir com o desempenho de Isabelle. Houve no início uma fase de adequação ao personagem, na qual foi possível senti-la ainda tateando o papel, tímida até, estudando o terreno em que deveria pisar, algo absolutamente compreensível para uma atriz que quase não fez comédia diante de uma personagem absolutamente cômica. Talvez por essa razão, tenham vindo as críticas.


A protagonista não é o problema
Verão 90 apresenta muitos problemas, que passam pelo texto, direção e a produção como um todo, embora divirta aqueles que se propuseram embarcar na história. Mas definitivamente a protagonista não é um deles. Manu é uma mocinha diferente do que as novelas costumam apresentar, mesmo no horário das sete, e a interpretação de Isabelle contribui para isso. 

Ainda no início da novela, foi alardeado um pedido da emissora para que a atriz maneirasse na caricatura da personagem. Se isso aconteceu mesmo eu não sei- me parece que não -, mas o que foi sentido é que Isabelle não modificou a sua interpretação e sim, conseguiu, em determinado momento, dominar por completo sua personagem e a partir de então vem divertindo e encantando. Do gestual à voz, do riso ao choro, o olhar, tudo em Manuzita revela um cuidadoso trabalho de composição e a atriz pareça super a vontade em cena. 

A dupla formada com Cláudia Raia, com mais anos de estrada e que domina a comédia como poucas, mostrou-se fundamental para esse resultado. A dinâmica entre Lidiane e Manu, mãe e filha, funciona, as duas tem química juntas e é um dos maiores atrativos da novela. A parceria com outros nomes como Luiz Henrique Nogueira e o próprio par romântico, Rafael Vitti – outro que faz um João encantador – enriquecem ainda mais seu trabalho. 

Por tudo isso é que, mesmo não sendo a melhor das mocinhas - tampouco a pior, longe disso - Manu deve se tornar um dos momentos mais marcantes para Isabelle da televisão, um papel que revelou sua veia cômica e que pode significar novos rumos para sua carreira. De uma maneira geral, mais uma vez se confirma o talento de uma jovem atriz que cresceu aos olhos do público.  

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