Por Fábio Dias
Quando o Canal Viva divulgou que Terra Nostra seria reprisada, eu torci o nariz. No entanto, resolvi espiar os primeiros capítulos. Para minha surpresa, não consegui largar mais a trama de Benedito Ruy Barbosa, e hoje meses depois, para mim é a novela que mais me prende atualmente.
Terra Nostra em 1999 foi concebida para ser dividida em fases, mas, devido ao fenômeno de seu início a Globo desistiu de dividi-la e a fez em mais de 200 capítulos, número normal naquela época. Com isso, a trama perdeu força e ganhou a famosa barriga, o que é natural em novelas longas. E a audiência foi caindo, pois o que era para ser apenas a primeira fase, não sustentou uma novela tão longa.
Hoje entendo o porque de ter sido feita dessa maneira. O sucesso arrebatador em seu início dela não foi à toa. A trama é feita de personagens fortíssimos, em uma super produção que não deixa em nada a dever para os dias de hoje. O elenco é forte, vigoroso. É um deleite ver Raul Cortez em um personagem tão encantador e carismático como o Francesco. Antônio Fagundes faz o irrepreensível barão do café, coronel Gumercindo que vira e mexe consegue ser domado pelas mulheres fortes de sua família. São muitos, ou quase todos se destacaram no elenco, é até injusto citar um ou outro.
Outra coisa que hoje em dia é diferente nas novelas são as situações, a construção dos romances e o desenvolvimento. Tudo é sem atropelo, aos poucos. Isso faz falta nas novelas de hoje em dia. O romance de Francesco (Raul Cortez) e Paola (Maria Fernanda Cândido) demorou meses para ser consumado. Foram vários capítulos de olhares, sutilezas e entradas. Da mesma forma, foi o atual destaque dos capítulos em exibição, em que começa o romance de Madame Janete (Ângela Vieira) e seu cocheiro Josué (Juan Alba). Cenas longas com situações banais, como a madame perambulando pela casa a noite, pensando em ir ou não ao quarto do cocheiro, se escondendo do filho, ficando para fora de casa são deliciosas. Gosto muito da relação das empregadas com a Madame Janete, elas são intrometidas, falam o que pensam, deixam a patroa em saia justa. A governanta Mariana, defendida por Tania Bondezan rendeu ótimas cenas com sua patroa má. Grande destaque.
Teve momentos que achei que fosse desistir da novela, como por exemplo quando Juliana perde os dois filhos, era muito choro, muito drama, mas a novela não se prendeu a isso. Ela foi tendo viradas, mudou o foco, a cada capítulo acontece muita coisa. Criam se novas situações, que por mais que seja de uma saga familiar com vários bebês nascendo, preparando-a para uma continuação, com o compacto a novela de forma nenhuma fica com barriga. Todas as personagens são bem explorados durante a novela e sem mudar suas personalidades ou subestimar a inteligência do telespectador como é de costume hoje em dia.
Uma pena Terra Nostra não ter tido continuação. Gostaria muito de assistir o desfecho da saga da novela, afinal, no encerramento do último capítulo, não foi o tradicional FIM que apareceu na tela e sim“Essa história não termina aqui!”, mas, infelizmente o autor desistiu da continuação. Segundo ele, devido a minissérie Aquarela do Brasil, escrita por Lauro César Muniz e dirigida por Jayme Monjardim, o mesmo excelente diretor de Terra Nostra terem feito o período histórico que ele pretendia abordar na continuação.
Na primeira exibição, eu não valorizei tanto a parte histórica de Terra Nostra. Era muito novo, não conhecia São Paulo, não me interessava por História. Hoje vejo com outros olhos. Que construção de época incrível, não só pela parte técnica, mas sim pela forma como o autor abordou cada tema. Machismo, imigração, peste, coronelismo, crise política, entre outros. É até engraçado, Terra Nostra, Por Amor falam de crise política e hoje ainda vivemos, talvez a mais forte. Parece que o Brasil não sai nunca dessa crise, ou só piora. Enfim, faz muita falta novelas assim na TV, e que bom que temos o Viva para trazer essas tramas de volta.
***
Sobre o autor
0 Comentários