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As Minhas peças favoritas de 2019 - Parte 1

Por Rodrigo Ferraz

Essa semana iria o ar mais um Drops, correto? Mas não, esse mês quis fazer diferente, como ano passado houve inúmeras peças incríveis, resolvi convidar um time muito bacana para comentar sobre as minhas 9 peças favoritas do ano de 2019 e como foram 9 escolhas dividirei em três capítulos o depoimento dessas pessoas vamos conferir?

O espetáculo Jardim de Inverno, baseada no romance do escritor norte-americano Richard Yates, Revolutionary Road, lançado em 1961, ganhou versão nos palcos com Andréia Horta e Fabrício Pietro, também adaptador do texto. O espetáculo foi destaque em 2019 pela encenação do gabaritado diretor Marco Antônio Pâmio. Uma direção clássica e sensível que expõe o casal April e Frank em duas situações: de um lado admirado pelo ciclo em que está e de outro frustrado pelos sonhos não realizadas e escolhas feitas. Os atores e protagonistas entretêm bem a plateia e conseguem nuances ao mostrar as instabilidades emocionais dos personagens, mas é o time de coadjuvantes que roubam a cena,  com destaque para Iuri Saraiva, como um esquizofrênico digno de aplausos.

Kyra Piscitelli, assistente de direção, jornalista e crítica de teatro. Faz parte da comissões da APCA e do Prêmio Aplauso de Teatro.

Um dos grandes clássicos de Ariano Suassuna recebeu, 'O Auto da Compadecida', foi montado pelo grupo Maria Cutia, e contou com direção de Gabriel Villela. Para quem está acostumado com a história de João Grillo e Chicó que ficou muito famoso com a minisserie (exibida pela TV Globo) e o filme de Guel Arraes, que contou com Selton Mello, Matheus Nastchergale, Fernanda Montenegro e tantas outras estrelas em seu elenco, há 20 anos, pode ter certeza que terá uma grata surpresa. A montagem recebe um quê mais teatral e regional, misturando circo e com uma pitada de crítica política para os tempos atuais. A escolha das musicas cantadas e tocadas pelos atores deram um toque todo especial. Valeu muito a pena de ver, e se tiver em sua cidade, não perca a oportunidade de ver!

Diogo Cavalcanti Salvador, é historiador e jornalista.

A montagem de Daniela Thomas conseguiu colocar no palco o horror da guerra por meio da Guerra dos Trinta Anos (conflito entre protestantes e católicos europeus do século XVII, que deixou cerca de 8 milhões de mortos),  com uma das peças mais emblemáticas do teatro épico brechtiano: Mãe Coragem e Seus Filhos.

Em tempos tão difíceis de barbárie e de retrocesso nos quais o Brasil se encontra atualmente, a peça colocou nos holofotes a própria dinâmica social e suas implicações. O cenário que embalou a peça, um campo de areia e lama de onde não brota vida ou nada produtivo, torna inevitável a analogia à Shoá (a peça foi escrita no ano da Segunda Guerra Mundial, em 1939), mas de maneira significativa nos remete ao lamaçal de Mariana, ao desastre de Brumadinho, e às queimadas da Amazônia, todos marcados pelo signo da moeda. Este é, aliás, o mesmo signo que marca o propósito de Mãe Coragem, motivada por seu fascínio pela destruição. Como a própria diretora, Daniela Thomas, explicou sobre a personagem principal, Anna Fierling (ou Mãe Coragem): “A personagem apresenta uma espécie de fascínio com a guerra. É uma pessoa que gosta, que tem prazer de viver da guerra e na guerra”. 

Exalando a própria essência violenta do bolsonarismo com sua figura central e seus seguidores, a peça de Brecht serve para nos alertar sobre o perigo iminente do fascismo, e nos lembra também que a Democracia começa a morrer não somente nas mãos de ditadores e generais, mas com o consentimento do próprio povo, e também, mais simbolicamente na própria urna de votação.  Esta foi, definitivamente, uma das peças mais poderosas e necessárias no ano de 2019 para um Brasil que caminha cada vez mais para trás.

Thiago Russo é psicanalista, professor e tradutor.

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