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Pantanal: a magia e a natureza com voz ativa novamente no horário das 21h

Por Fábio Leonardo Brito




Na última terça-feira (22), a Globo exibiu a primeira chamada para sua próxima novela das 21h, Pantanal, remake da trama homônima de Benedito Ruy Barbosa desenvolvida para a extinta Rede Manchete, em 1990.

Essa chamada atrai a atenção por muitos motivos. Primeiro, pelo deslumbre de imagens, capaz de embasbacar mesmo o maior hater da novela que ainda não estreou, devido à sua suposta predileção por parte da direção de dramaturgia da emissora (na pessoa de Ricardo Waddington) com relação à atual trama do horário nobre, Um Lugar ao Sol, de Lícia Manzo. Segundo, por não ser um teaser simples, e sim um trailer de mais de dois minutos, contando de forma resumida o plot que conduz da primeira fase da trama à sua fase definitiva. Terceiro, por ser veiculada pouco menos de quarenta dias antes da estreia do folhetim, diferente do que ocorre normalmente, visto que as primeiras chamadas de novas novelas se dão na data que demarca um mês antes da estreia.

Nova gestão da Globo diz a que veio


Não há como negar que a novela é o carro-chefe conceitual da nova gestão de entretenimento e dramaturgia da emissora. Ao assumir o cargo que era de Sílvio de Abreu, o até então diretor artístico José Luiz Villamarim, subordinado direto de Waddington, tomou o remake da clássica novela da Manchete como o ponto de partida de uma nova era.

Não sabemos, na prática, o que isso significa, mas os indicativos são o de uma busca por novas linguagens para a dramaturgia diária, bem como uma nova linguagem e um novo conceito para fórmulas antigas. Isso é essencialmente diferente da proposta de Sílvio, cujo investimento, salvo raras exceções, focou no “feijão-com-arroz” mais ou menos esquemático para garantir sucesso – formato onde, aliás, reinou Walcyr Carrasco.

O regionalismo e o cenário rural de volta ao horário nobre


A mim, em particular, o remake de Pantanal anima por muitos motivos. É o retorno de uma trama rural ao horário nobre, o que não acontece desde Velho Chico, também uma novela de Benedito Ruy Barbosa, desenvolvida, em grande medida, pelo seu neto, Bruno Luperi, que assume o roteiro da próxima história das nove.

Isso pode ser o indicativo de um retorno à diversidade temática que tanto marcou a dramaturgia global nos anos 1990 e 2000, onde sempre tínhamos um respiro estilístico entre uma novela e outra. Ou seja: uma crônica do cotidiano carioca era substituída por uma trama paulistana de suspense, que era substituída por uma novela sobre ciência e uma nação oriental, que, por sua vez, dava lugar a uma novela rural, a qual era substituída por um realismo fantástico, e assim sucessivamente.

Novo autor

Outro motivo de ânimo é o fato de que Bruno Luperi já é destacado como o autor titular do folhetim. Não sabemos se os créditos de abertura colocarão ele, um rapaz de 32 anos, que nunca assinou nenhuma novela como autor titular, como o primeiro nome – ou se manterão o de seu avô –, mas o fato é que Bruno é quem responde por Pantanal em todas as entrevistas e matérias a respeito (inclusive as duas reportagens do Fantástico que tiveram a novela como tema).

Isso mostra que temos um novo autor, que pode estar entrando para o circuito de nomes possíveis para nossas novelas. Quem sabe teremos a adaptação do livro Arroz de Palma para o horário das 18h? Ou mesmo teremos Bruno assinando novas novelas autorais para as 21h? Apenas o tempo e a repercussão de Pantanal dirão. Mas é tudo bastante alvissareiro.

Se temos Bruno Luperi como o autor titular de Pantanal, podemos destacar uma característica pessoal sua, alinhada com o nosso tempo, que o diferencia sensivelmente de seu avô, ainda que respeite e seja fiel ao seu universo: a sua visão de que a natureza é maior do que o homem, cujo lugar é o de respeitá-la.



A natureza como protagonista

Benedito, um homem de seu tempo, escreveu novelas sobre a submissão da natureza ao homem – vide Renascer e O Rei do Gado –, embora também sempre exaltasse o respeito. Bruno, já em Velho Chico, indicava que a natureza é uma força incontrolável.

O Pantanal deve se tornar – assim como aconteceu com o rio São Francisco na novela anterior – o principal protagonista, mais até do que José Leôncio e sua dinastia. O novo Joventino, interpretado por Irandhir Santos, faz uma simbólica referência no trailer, que, pelo que sabemos da história e pelo texto em off, pode ser ao próprio meio ambiente. “A natureza aqui fala, e fala mais alto que os homens”, diz ele.

Nesse sentido, o lugar de Juma Marruá, que agora é defendida por Alanis Guillen, pode ter uma função na história ainda maior do que teve em 1990. Deve se tornar uma metáfora ainda mais forte da natureza incontrolável do pantanal mato-grossense. A mulher que, ao se sentir ameaçada, transforma-se em onça, pode significar a natureza que, quando ameaçada, reage violentamente contra as pessoas. A profecia da novela pode ser ainda mais intensa quando sabemos que as recentes queimadas naquele bioma serão retratadas na novela.


Um universo encantado e a força do feminino


Pantanal traz de volta, também, a magia e o encantamento, pautada nas lendas e histórias dos boiadeiros daquela região: Joventino (Irandhir Santos) doma bois “no feitiço”; Maria Marruá (Juliana Paes) se transforma em onça; Juma (Alanis Guillen) também; Joventino, ao desaparecer e se tornar o Velho do Rio (Osmar Prado), o “encantado” que se transforma em sucuri e resgata os perdidos nos alagados. Esse mundo mágico, onírico, é algo que traz frescor a um horário que tem se forjado tão pragmático.

Outro ponto que destaco é a possibilidade do elemento feminino ser ainda mais destacado que na primeira versão. A Pantanal de 1990 já trazia mulheres fortíssimas. Mas agora, além de Juma, Maria, Filó (Dira Paes), Madeleine (Karine Teles), Irma (Camila Morgado), Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e Guta (Júlia Dalavia), temos o traço de feminilidade nos próprios homens da história. O próprio Joventino, ao ser integrado à natureza, desvincula-se de um lugar de “força”. Jove (Jesuíta Barbosa), por sua vez, é um homem delicado, o oposto dos peões pantaneiros, a antípoda ao pai. Com isso, ao apaixonar-se por Juma, faz uma união de inversos: o homem sensível e a mulher selvagem.

Esperamos assim, magia e natureza, aliada a histórias de homens e mulheres fortes em um cenário que, por si só, tem muito a contar. Que venha Pantanal, que ganhe as redes sociais e a audiência e que mostre que o lugar de novelas diferentes das que atualmente entram no ar ainda existe.

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Autor: Fábio Leonardo Brito 

Dramaturgo e professor universitário de História. Mora em Teresina (PI). Tem interesses em temas ligados a cinema, música, comportamentos juvenis, teledramaturgia e cultura em geral

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1 Comentários

  1. Ansioso por Pantanal. Pra mim será inédita. Já que não vi em suas outras exibições. Ótimo texto xará!

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